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O que é

AGROEXTRATIVISMO

 

frutos extrativismo

 

O uso econômico das plantas nativas pelas populações locais normalmente se dá pelo extrativismo. O extrativismo consiste basicamente nas atividades de coleta e extração de produtos naturais, sejam estes de origem animal, vegetal ou mineral, onde os recursos úteis são retirados diretamente da sua área de ocorrência natural para consumo próprio e/ou para serem comercializados2.

A diversificação das atividades no meio rural, combinando a agricultura e a pecuária com a atividade extrativista, caracteriza o agroextrativismo que surgiu como complemento ao extrativismo. Assim, por definição, o agroextrativismo é a união de uma atividade agrícola sustentável, de baixo impacto e alto valor social, com a extração de produtos florestais nativos. No Brasil, estima-se que existam cerca de um milhão de famílias, apenas na floresta tropical úmida, praticando múltiplas atividades complementares como necessidade de sobrevivência4.

Neste contexto, o Semiárido Mineiro e seu entorno, que compreende 188 municípios, caracteriza-se por apresentar os biomas: Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Estes biomas possuem grande quantidade e diversidade de espécies nativas com expressivo potencial extrativista: são sementes, flores, frutas, folhas, raízes, cascas, látex, óleos e resinas que possuem inúmeras utilidades para as pessoas, como alimentação, remédios, utensílios, ferramentas e artesanatos. Todos estes produtos além de contribuir para a sobrevivência das comunidades tradicionais, muitas vezes eles ajudam na geração de renda para os agroextrativistas7.

Nestas comunidades, a exploração extrativista dos frutos nativos formam várias cadeias produtivas, sendo os frutos mais explorados comercialmente ou para o consumo próprio: pequi (Caryocar brasiliense); macaúba (Acrocomia aculeata), Umbu (Spondias Tuberosa), mangaba (Hancornia speciosa); coquinho azedo (Butia capitata); faveleira (Dimorphandra molis); cajuí (Anarcadium sp); cagaita (Eugenia dysenterica); araticum (Annona crassiflora); barú (Dypterix alata Vog.), buriti (Mauritia flexulosa), entre outros3.

No período da safra de cada espécie, principalmente na safra do pequi, muitas famílias de produtores rurais, moradores de agrovilas ou da periferia das cidades, reduzem as demais atividades para se dedicarem ao extrativismo, o que lhes garante durante um período de poucos meses um rendimento, às vezes, superior aos rendimentos das demais atividades realizadas durante o ano5. Quando estas comunidades se organizam em associações ou cooperativas estruturadas com unidades de beneficiamento, elas se encarregam do processamento de frutos nativos e outros produtos da agricultura familiar. Os resultados incluem a melhoria da renda dos produtores, e a adequação da relação produtores-meio ambiente, sendo que a responsabilidade de cada um com a preservação ambiental resgatou a autoestima da população em relação aos saberes tradicionais7.

Algumas dessas associações e cooperativas, com o auxílio das instituições de apoio (universidades, ONGs e centros de pesquisas) têm conseguido processar os frutos nativos fabricando produtos de boa qualidade que estão conquistando uma clientela no mercado nacional, institucional e em alguns casos até internacional. Contudo, o fator mais importante deste processo é que as comunidades estão sendo conscientizadas para a prática do extrativismo sustentável. Este se diferencia do extrativismo predatório, basicamente, porque o primeiro não destrói as fontes de renovação do recurso natural explorado, mantendo assim, os processos ecológicos, enquanto que o extrativismo predatório, que geralmente é praticado pelos atravessadores ou catadores informais, causa danos severos ao recurso natural explorado reduzindo a capacidade de resiliência desse sistema natural2.

grande sertoDentre as associações e cooperativas que se encontram presentes no Semiárido Mineiro e entorno, que, por sua vez, mantêm práticas extrativistas, estão a Cooperativa Sertão Veredas (Cooperativa Regional de Produtores Agrossilviextrativistas Sertão Veredas), em Chapada Gaúcha, que comercializa os produtos das comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária e quilombolas da região de Chapada Gaúcha e entorno; a Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativistas Grande Sertão em Montes Claros, que apoia a organização da produção e oferece infraestrutura de transporte, beneficiamento e comercialização aos agroextrativistas; a COOPERJAP, localizada em Japonvar, que comercializa pequi em conserva, óleo de pequi, castanha de pequi e polpas de frutas nativas congeladas; e a Central do Cerrado – Cooperativa de grupos produtivos, que funciona como um grande canal de comercialização dos produtos das outras organizações além de promover produtos agroextrativistas do Cerrado, coletados e processados por agricultores familiares e comunidades tradicionais do Cerrado7.

Assim, é necessário que estas práticas sejam multiplicadas pelas comunidades agroextrativistas para que o extrativismo, praticado de forma sustentável, possa ser perpetuado entre as gerações, podendo assim, gerar renda para muitas famílias e, ao mesmo tempo, contribuir para a conservação do bioma de onde é extraído, protegendo sua diversidade de plantas e animais, as nascentes, cursos d’água e a riqueza cultural de seus povos7.

 

REFERÊNCIAS:

1-  ALMEIDA, S.P. et al. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998, 464p.

2-  AQUINO, F. G et al. Educação Ambiental e Conservação do Bioma Cerrado: valoração e uso sustentável. EMBRAPA, 2006.

3- CANDIDO, P A; REZENDE, M L. Estudo da cadeia produtiva de frutos do cerrado em minas gerais. 2ª Jornada Científica de Geografia 2010. Universidade Federal de Alfenas.

4- CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: enfoque científico e estratégico. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, v.3, n.2, p.13-16, 2002.

5- FARIAS, T. M. Biometria e processamento dos frutos da macaúba (Acrocomia ssp) para a produção de óleos. Belo. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) Programa de Pós - graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.

6- FUNBIO. Agroextrativismo e processamento de polpas de frutas do Cerrado e da Caatinga. Disponível em: <http://www.funbio.org.br/o-que-fazemos/agroextrativismo-e-processamento-de-polpas-de-frutas-do-cerrado-e-da-caatinga-mg>. Acessado em: 25 de novembro de 2013.

7- OLIVEIRA, W. L.; SCARITO, A. Boas práticas de manejo para o extrativismo sustentável do pequi. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2010. 84 p.

 

 


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